Nos dias 14, 15 e 16 de julho estive na UFBA em Salvador para ministrar o curso “O Egito antigo entre a arte, a religião e o ensino” a convite dos Professores Marina Cavicchioli, de História Antiga e Marcelo Pereira Lima, de História Medieval. O minicurso é resultado de uma parceria entre o CMAC (Grupo de pesquisa em Cultura Material, Antiguidade e Cotidiano) e o Vivarium.
O minicurso contou com a participação de alunos de diversos cursos da UFBA permitindo que as abordagens sobre o Egito antigo fossem problematizadas e discutidas. Apesar de temas aparentemente tradicionais (arte e religião) serem apresentados para o curso, foi a partir deles que nos foi possível desconstruir as imagens elaboradas e resignificadas sobre o Egito. É importante ver que a Egiptologia não é Egiptomania, mesmo que os egiptólogos – em sua maioria – sejam também egiptomaníacos.
Para o público heterogêneo foi importante debater os lugares que o Egito ocupa no imaginário e no meio acadêmico. No que diz respeito ao ensino, é interessante notar que as demandas em torno do ensino de História da África, propostas recentemente pelo MEC, venham gradativamente empurrando o Egito para o continente africano, provocando equívocos de outra ordem, como a crença em um Egito negro. Ao mesmo tempo, o deslocamento do Egito do “Oriente” e do Mediterrâneo deixou um vazio que, em muitos casos, levou à retirada do Egito da História.
Muitas das visões que se tem do Egito ainda são baseadas nas fontes clássicas. A falta de profissionais especializados na maior parte das universidades brasileiras dificulta a situação dos professores de história antiga que precisam desconstruir um Egito de Heródoto ou Plutarco ou, em casos mais extremos, de materiais não científicos. O excesso de popularidade e a popularização do Egito antigo nem sempre ajudam a profissionalização dele no Brasil. Por isso, a iniciativa dos professores foi tão importante, favorecendo esse diálogo dentro da universidade, divulgando as psquisas dos profissionais da área.
Talvez mais do que esclarecer e pontuar alguns aspectos da história do Egito antigo, foi importante mostrar o desenvolvimento da disciplina no Brasil e apresentar os trabalhos de estudantes e pesquisadores no país. Ainda que a região sudeste concentre os cursos e o maior número de pesquisas, é importante notar que há uma expansão lenta à medida que novos pesquisadores se formam. É preciso que os estudantes tenham acesso a esse material e que os pesquisadores exponham-se dentro e fora da academia.
Thais Rocha da Silva
Agradeço ao CMAC e ao Vivarium núcleo Nordeste pelo convite. À Profa. Dra. Marina Cavicchioli e ao Prof. Dr. Marcelo Pereira Lima pelo convite e pela generosidade na acolhida. Ao Mestrando Rennan de Souza Lemos, membro do SESHAT, pelo diálogo aberto na elaboração do curso e suas contribuições. Aos participantes do minicurso pelo debate e pelas perguntas estimulantes.