No decorrer do trabalho de campo é comum que as missões visitem outras escavações e sítios arqueológicos nas proximidades. Escavar no complexo funerário de Neferhotep significa ser vizinho de muitas escavações, sítios e monumentos. Por exemplo, basta que viremos para o lado para podermos admirar o templo da rainha Hatshepsut em Deir el-Bahri.
Caminhar pela necrópole tebana é um ótimo exercício de apreensão da paisagem. Podemos perceber sua composição atual e também ter alguns indícios dos significados atribuídos pelos egípcios antigos àquela paisagem dinâmica, complexa e animada.
Bem ao lado do templo de Hatshepsut e nas proximidades de Neferhotep encontra-se o “Vale das Cores”. Trata-se de uma formação sedimentar cujas rochas sofrem oxidação, produzindo uma variedade de cores. Dissolvidas em água pelos egípcios antigos, eram a base para a produção dos pigmentos utilizados em tumbas como a de Neferhotep, que apresenta uma decoração muito elaborada.
Ao caminhar pelo “Vale das Cores”, pode-se encontrar inúmeros fragmentos de rocha pela superfície. Também se pode encontrar rochas sobressalentes na formação geológica. No interior da rocha acha-se pigmentos diversos, como vermelho, amarelo, violeta, com variantes de tonalidade. Coletamos alguns desses fragmentos para análise. Este trabalho é importante porque nos permite esclarecer outros aspectos da decoração da tumba de Neferhotep e delimitar o local de onde se retirava matéria-prima para a fabricação dos pigmentos.
No “Vale das Cores”, os deuses forneciam aos humanos aquela variedade de pigmentos para que produzissem lindíssimas representações. Configurava-se, assim, uma paisagem animada, na medida em que se atribuía um simbolismo às características do ambiente. Este deixa de ser natural e passa a ser construído pelos seres humanos, organizando suas práticas, fornecendo-lhes matéria-prima e garantindo, portanto, uma paisagem animada e, neste caso, cheia de cores.